domingo, 26 de junho de 2011

Interpretação de texto - crônica

Diálogo do dia-a-dia
            - Alô, quem fala?
            - Ninguém. Quem fala é você que está perguntando quem fala.
            - Mas eu preciso saber com quem estou falando.
            - E eu preciso saber antes a quem estou respondendo.
            - Assim não dá. Me faz o obséquio de dizer quem fala?
             - Todo mundo fala, amigo. Desde que não seja mudo.
       - Isso eu sei, não precisa me dizer como novidade. Eu queria saber quem está no aparelho.
            - Ah, sim. No aparelho não está ninguém.
            - Como não está, se você está me respondendo?
            - Eu estou fora do aparelho. Dentro do aparelho não cabe ninguém.
            - Engraçadinho. Então quem está ao aparelho?
            - Agora melhorou. Estou eu para servi-lo.
            - Não parece. Se fosse para me servir, já teria dito quem está falando.
Bem, nós dois estamos falando. Eu de cá, você de lá. E um não conhece o outro.
            - Se eu conhecesse não estava perguntando.
            - Você é muito perguntador. Note que eu não lhe perguntei nada.
            - Nem tinha que perguntar. Pois se fui eu que telefonei.
      - Não perguntei nem vou perguntar. Não estou interessado em conhecer outras pessoas.
            - Mas podia estar interessado pelo menos em responder a quem telefonou.
            - Estou respondendo.
            - Pela última vez, cavalheiro, e em nome de Deus: quem fala?
                   - Pela última vez, e em nome da segurança, porque sou obrigado a dar essa informação a um desconhecido?
            - Bolas!
            - Bolas digo eu. Bolas e carambolas.
Por acaso você não pode dizer com quem deseja falar, para eu lhe responder se essa pessoa está ou não está aqui, mora ou não mora nesse endereço? Vamos, diga de uma vez por todas: com quem deseja falar?
            Silêncio.
            - Vamos, diga: com quem deseja falar?
            - Desculpe, a confusão é tanta que eu nem sei mais. Esqueci. Tchau.

Fonte: Carlos Drummond de Andrade. Contos possíveis. Rio de Janeiro, Record, 1991


1-Interpretação do texto

            - Alô, quem fala?
            - Ninguém. Quem fala é você que está perguntando quem fala.
            - Mas eu preciso saber com quem estou falando.
            - E eu preciso saber antes a quem estou respondendo.

a) Em sua opinião, quem deveria dizer o nome primeiro: quem ligou ou quem atendeu à ligação? Por quê?
b) Como você faz quando recebe uma ligação em sua casa? Por quê?
RESPOSTAS:
a) Resposta Pessoal/Sugestão: Eu acho que quem ligou deve falar o nome, pois supõe-se que quem liga já sabe para onde está ligando.
b) Resposta Pessoal/Sugestão: Costumo, primeiro, ouvir o nome da pessoa que ligou, pois se eu disser o meu nome, corro o risco sofrer um trote, ou ser enganado por alguém que está querendo somente brincar.

2-O título do texto é “Diálogo do dia-a-dia”. Você concorda com ele? Por quê?
Não concordo com o título, pois acho que no dia-a-dia, as pessoas não se tratam dessa maneira.

3-Transcreva do texto, linguagens que demonstrem que os personagens do diálogo são:

a) Adultos    b) Homens   RESPOSTAS:a) Adultos – cavalheiro      b) Homens – desconhecido, outro.

4-Qual foi a conseqüência do diálogo para quem ligou? E para quem atendeu?
Quem ligou: não conseguiu falar com quem queria e nem sobre o que queria /ou/ falou tanto sobre outras coisas que se esqueceu para quem ligou.
Quem recebeu a ligação: perdeu muito tempo tentando convencer o outro a dizer quem era e acabou sem saber quem ligou.


5-Copie do texto a fala que:

a) mostra que quem recebeu a ligação achava inseguro dizer seu nome a um estranho.

b) quem ligou não gostou da brincadeira feita por quem recebeu a ligação.

RESPOSTAS:
a) - Pela última vez, e em nome da segurança, porque sou obrigado a dar essa informação a um desconhecido?
b) - Engraçadinho. Então quem está ao aparelho?

6- Imagine que o texto tivesse sido escrito assim:

E o diálogo entre os dois continuava. “Todo mundo fala, amigo. Desde que não seja mudo.” “Isso eu sei, não precisa me dizer como novidade. Eu queria saber quem está no aparelho.” Como seria possível para o leitor identificar a fala do personagem?

O leitor pode observar o uso das aspas, entretanto seria necessário acrescentar algumas falas do narrador, que dariam pistas sobre quem está falando.

7-Agora você é a pessoa que recebeu a ligação. Escreva uma carta a um amigo ou amiga, contando o que aconteceu. Não esqueça a estrutura de uma carta.

Fique atenta à maneira que seu aluno escreve a carta, observando se ele obedece à estrutura textual. Neste momento seu aluno mostrará a capacidade que tem em fazer sínteses sobre um fato.

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