domingo, 26 de junho de 2011

nterpretação - No restaurante - crônica

NO RESTAURANTE

             - Quero lasanha.
            Aquele anteprojeto de mulher – quatro anos no máximo, desabrochando na ultraminissaia – entrou decidida no restaurante. Não precisava de menu, não precisava de mesa, não precisava de nada. Sabia perfeitamente o que queria. Queria lasanha.
            O pai, que mal acabara de estacionar o carro em uma vaga de milagre, apareceu para dirigir a operação-jantar, que é, ou era, da competência dos senhores pais.
            - Meu bem, venha cá.
            - Quero lasanha.
            - Escute aqui, querida. Primeiro escolhe-se a mesa.
            - Não, já escolhi. Lasanha.
            Que parada – lia-se na cara do pai. Relutante, a garotinha condescendeu em sentar-se primeiro, e depois encomendar o prato:
            - Vou querer lasanha.
            - Filhinha, por que não pedimos camarão? Você gosta tanto de camarão.
            - Gosto, mas quero lasanha.
            - Eu sei, eu sei que você adora camarão. A gente pede uma fritada bem bacana de camarão. Tá?
            - Quero lasanha, papai. Não quero camarão.
            - Vamos fazer uma coisa. Depois do camarão a gente pede uma lasanha. Que tal?
            - Você come camarão e eu como lasanha.
            O garçom aproximou-se, e ela foi logo instruindo:
            - Quero uma lasanha.
            O pai corrigiu:
            - Traga uma fritada de camarão pra dois. Caprichada.
            A coisinha amuou. Então não podia querer? Queriam querer em nome dela? Por que é proibido comer lasanha? Essas interrogações também se liam no seu rosto, pois os lábios mantinham reserva. Quando o garçom voltou com os pratos e o serviço, ela atacou:
            - Moço, tem lasanha?
            - Perfeitamente, senhorita.
            O pai no contra-ataque:
            - O senhor providenciou a fritada?
            - Já, sim, doutor.
            - De camarões bem grandes?
            - Daqueles legais, doutor.
            - Bem, então me vê um chope e pra ela... O que você quer meu anjo?
            - Lasanha.
            - Traz um suco de laranja pra ela.
            Com o chopinho e o suco de laranja, veio a famosa fritada de camarão, que, para surpresa do restaurante inteiro, interessado no desenrolar dos acontecimentos, não foi recusada pela senhorita. Ao contrário, papou-a, e bem. A silenciosa manducação atestava, ainda uma vez no mundo, a vitória do mais forte.
            - Estava uma coisa, hein? – comentou o pai, com um sorriso bem alimentado. – Sábado que vem a gente repete, combinado?
            - Agora a lasanha, não é papai?
            - Eu estou satisfeito. Uns camarões geniais! Mas você vai comer mesmo?
            - Eu e você, tá?
            - Mas meu amor, eu...
            - Tem de me acompanhar, ouviu? Pede a lasanha.
            O pai baixou a cabeça, chamou o garçom e pediu. Aí, um casal, na mesa vizinha, bateu palmas. O resto da sala acompanhou. O pai não sabia onde se meter. A garotinha, impassível. Se na conjuntura, o poder jovem cambaleia, vem aí, com força total, o poder ultrajovem.

Criança dagora é fogo
Carlos Drummond de Andrade
Editora Record


1-    No dicionário, a palavra manducação está assim: Manducação: comer, mastigar (0,5)
“A silenciosa manducação atestava, ainda uma vez no mundo, a vitória do mais forte.”
Observando o sentido da palavra em negrito e o contexto da crônica, podemos dizer que:

a) o pai e a garota comeram silenciosamente, pois o camarão estava muito gostoso.
b) o pai era a autoridade e, portanto, a garota resolveu comer calada o que ele pediu.
c) a garota mastigava quieta e sem vontade, pois não gostava de camarão.
d) os dois comeram silenciosamente, pois não queriam conversar um com o outro.

2-    Essas interrogações também se liam no seu rosto, pois os lábios mantinham reserva.Use V ou F nas afirmativas que explicam o sentido da frase anterior. (1,0)
(   ) A garota demonstrava,  sem palavras, o quanto estava descontente.
(   ) A garota não falava nada, pois estava chateada com a situação.
(   ) Ela tinha muitas perguntas, mas era reservada, quase não falava.
(   ) O pai não deixava que a garota falasse nada. 

A seqüência correta é:
a) VVVF
b) VVFV
c) VFVV
d) VVFF

3-    Após analisar a crônica, identifique a alternativa que apresenta uma característica desse tipo de texto. (0,5)
(    ) Os fatos apresentados relatam acontecimentos do dia-a-dia.
(    ) A linguagem informal, simples, tem o objetivo de tornar o texto mais fácil.
(    ) Usa palavras e expressões que chamam a atenção do leitor.
(    ) Todas as alternativas estão corretas.

4-    Analisando os fatos da crônica, em que momento pode se dizer que o pai convenceu a filha? (1,0)


5-    A crônica que você acabou de ler foi retirada de um livro chamado “Criança dagora é fogo”.
Que relação podemos estabelecer entre o título do livro e o fato que você acabou de ler? (1,0)




6-    Qual foi a atitude dos clientes no restaurante, no final da história? Em sua opinião, por que agiram assim? (1,0)



7-    “!O pai, que mal acabara de estacionar o carro em uma vaga de milagre, apareceu para dirigir a operação-jantar, que é, ou era, da competência dos senhores pais.”  Segundo este trecho, podemos dizer que este fato aconteceu recentemente? Justifique. (1,0)




8-    Comente  favoravelmente ou contrariamente sobre o comportamento dos personagens principais do episódio. (1,0)
Pai: _____________________________________________________________________________



Filha: ____________________________________________________________________________




9-    Que outro título você daria à crônica? Justifique sua escolha. (1,0)


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